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VIII CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
VIII CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ

VIII CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ Lasker x Tarrasch, 1908
Em 17Ago1908 começou em Düsseldorf o match que durante tantos anos, toda a aficção mundial estava esperando. As negociações foram longas e trabalhosas, já que entre eles existia uma evidente animosidade, principalmente por parte de Tarrasch, que jamais havia perdoado Lasker pela conquista do título mundial antes dele.
Siegbert Tarrasch (Breslau, 1862 - Munich, 1934) foi o principal propulsor das doutrinas de Steinitz e suas principais obras, Trezentas partidas de xadrez e A moderna partida de xadrez, influenciaram poderosamente no desenvolvimento de várias gerações de enxadristas, pelo qual foi chamado de praeceptor germaniae, devido ao seu extremo dogmatismo e afã de fixar cátedra em todos os aspectos do xadrez, até o ponto em que o notável psicólogo e grande enxadrista norte-americano, Ruben Fine, referindo-se a seus artigos, afirma que deveriam chamar-se Assim fala Tarraschustra.
Tarrasch possuía um orgulho excessivo sem comparações, que lhe transformava em uma pessoa antipática, pois tinha um conceito muito elevado sobre si, subestimando todos os adversários, o que notavelmente o prejudicou. Conta-se que, antes do início do Torneio de Hamburgo, 1910, protestou com os organizadores pela inclusão do jovem inglês Yates, alegando que não tinha suficiente história para participar do torneio. Objetivamente falando, ele tinha razão, mas seguramente se arrependeu mais tarde de suas palavras, pois Yates não somente ganhou-lhe uma partida, mas uma bela partida.
Este aspeto negativo de seu caráter tem como contrapartida seu grande amor pelo xadrez durante toda sua vida e as belíssimas partidas que deixou para a posteridade, verdadeiras jóias do jogo de posição. A ele pertence a frase o xadrez, como a música, como o amor, tem a virtude de fazer feliz o homem, o que demonstra que Tarrasch, apesar de sua egolatria, não foi apenas um dos maiores jogadores de todos os tempos, mas também um dos mais fieis adoradores de Caissa.
Quando Lasker proclamou-se Campeão Mundial, teve que reconhecer que Tarrasch contava com um histórico muito superior, pois havia vencido os importantíssimos torneios de Nuremberg, 1888; Breslau, 1889; Manchester, 1890; Dresden, 1892 e Leipzig, 1894, além disso, recusou o match com Steinitz para não prejudicar sua carreira de médico, que exerceu primeiro em Nuremberg e depois em Munich. Verdade que não venceu o match contra Tchigorin em 1893, mas devemos reconhecer que seu rival tinha autêntica categoria de Campeão Mundial, ainda que jamais houvesse sustentado o título. Depois do surgimento de Lasker no cenário internacional, havia sido superado pelo Campeão Mundial em Hastings, 1895, e Nuremberg, 1896, mas nos encontros particulares estavam empatados, pois havia ganhado na primeira ocasião, perdendo a segunda. Mais tarde obteve um triunfo impressionante no grande Torneio de Viena, 1898, onde participaram em 2 turnos, os melhores enxadristas, com exceção do Campeão Mundial, e outro não menos notório, o Torneio de Monte Carlo, 1903.
Em 1905, enfrentou Marshall em Nuremberg, que havia vencido no ano anterior, superando Lasker e todos os grandes da época, em Cambridge-Springs, derrotando-o pelo
avassalador resultado de +8-1=8, com o que voltou a sentir-se o mais forte enxadrista do mundo, segundo o que manifestou: Após minha última e maior atuação, não vejo motivos para reconhecer alguém superior a mim no mundo enxadrístico. Seguramente foi mais difícil vencer o jovem Marshall, novo gênio americano em ascensão, que ao velho Steinitz. Estou disposto a jogar com Lasker sob condições iguais, mas não vou desafia-lo, isto o faz somente quem não é famoso e conquistou poucos títulos”.
A estas palavras Lasker enfrentou Marshall, vencendo por um placar superior ao obtido por Tarrasch, com o qual a rivalidade aumentou ainda mais. A comissão organizadora do Campeonato Mundial fez com que ambos fizessem as pazes, concordando Lasker em celebrar um encontro prévio, afirmando não sentir rancor de seu rival. Quando Tarrasch aproximou-se de Lasker, disse-lhe com rosto carrancudo: A você, doutor Lasker, só tenho que dizer-lhe duas palavras: xeque mate!
O vencedor do match seria aquele que primeiro conseguisse oito vitórias e realizou-se em Düsseldorf (onde foram jogadas as quatro primeiras partidas) e Munich (as restantes), e resultou numa amarga derrota para Tarrasch, pois poucas vezes não cumpriu o que prometeu, já que venceu somente três partidas, enquanto foi derrotado em oito, com cinco empates.
Após esta derrota, Tarrasch participou de torneios até 1928, e ainda que produzindo notáveis partidas, não venceu torneios importantes. Em 1911 enfrentou Schlechter em um emocionante encontro, em Colônia, com o qual empatou em +3-3=10; em 1916, derrotou Mieses, em Berlim, por +7-2=4, e neste mesmo ano, voltou a enfrentar Lasker em um match amistoso, em benefício às vítimas da Guerra, e o resultado foi mais adverso que o anterior, perdendo por +0-5=1.
Deve-se reconhecer que Tarrasch, apesar de ter sido um dos mais notáveis enxadristas de todos os tempos, teve o triplo azar de não enfrentar Steinitz, não enfrentar Lasker em sua melhor fase (que foi no final do século), e haver coincidido sua carreira com a de um dos maiores gênios de toda a história do xadrez.