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XII CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ
XII CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ

XII CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ Lasker x Capablanca, 1921
Durante 11 anos Lasker não defendeu o Título Mundial. Ainda que se deve mencionar a seu favor que, desde 1914 até fins de 1918, o mundo tinha demasiadas preocupações com a I Guerra Mundial para preocupar-se com xadrez, deve-se também reconhecer que impôs muitas dificuldades a Rubinstein para que disputasse o Campeonato.
José Raul Capablanca (La Habana, 1888 - New York, 1942) foi um dos meninos prodígios mais sensacionais da história do xadrez mundial. Aprendeu a jogar aos 4 anos e aos 13 consagrou-se Campeão Cubano ao derrotar em um match, Juan Corzo por +4-3=6.
Suas extraordinárias condições de jogador se desenvolveram ao máximo na América do Norte, onde se mudou para seguir estudos de engenharia na Universidade de Columbia, que mais tarde abandonou pelo xadrez. Em 1909 acertou um encontro com Frank J. Marshall, que 2 anos antes havia disputado o Título Mundial contra Lasker, e diante da surpresa geral, o cubano venceu pelo extraordinário resultado +8-1=14, com o que seu nome começou a figurar ao lado das mais importantes estrelas do tabuleiro.
Em 1910, participa do Torneio de New York, classificando-se em 2°, atrás de Marshall. Em 1921 o convidaram a participar do grande Torneio de San Sebastian, onde jogaram os mais destacados enxadristas da época, com exceção do Campeão Mundial, Lasker. Alguns jogadores opuseram-se à sua participação, alegando falta de categoria suficiente, ao que Marshall respondeu: Quem me venceu num match é forçosamente um bom enxadrista e como a categoria de Marshall era indiscutível, ninguém se atreveu a responder-lhe.
Capablanca fez jus às palavras de seu rival e amigo, pois diante da surpresa geral obteve o 1° lugar, superando entre outros a Rubinstein, Vidmar, Marshall, Nimzowich, Schlechter, Tarrasch, Bernstein, Spielmann, etc.
Em 1911 começaram as negociações para o encontro Lasker x Capablanca, mas o Campeão recusou uma oferta do Clube de Xadrez de La Habana, alegando que o clima tropical lhe prejudicaria. Em seguida, o clube Argentino, de Buenos Aires, quis organizar o encontro, oferecendo 25.000 francos ao vencedor e 12.500 ao perdedor. Ambas propostas falharam e ao 3° desafio, Lasker contestou, colocando entre outras, com as seguintes condições: Será vencedor o 1° que ganhe 6 partidas, sem contar os empates. O máximo de partidas será 30. Ao final destas, será vencedor o que tenha mais vitórias. Mas se houver apenas uma vitória a mais, o match será declarado empatado. O dr. Lasker fixará a data para começar a luta e o local da mesma...
Capablanca recusou alegando que um vencedor é sempre um vencedor, ainda que a vantagem seja mínima. Naturalmente Capablanca tinha razão, mas também a tinha os partidários de Lasker quando afirmavam: Capablanca ganhou reputação muito rapidamente, e antes de enfrentar Lasker deveria demonstrar sua maestria em outros torneios e matches. E isso era correto, já que uma vitória sobre Marshall e um 1° lugar em San Sebastian eram pouca coisa diante de um histórico como o do Campeão Mundial. Diante destas discórdias, o relacionamento entre eles não era muito agradável.
Vejamos os sucessos enxadrísticos que se desenvolveram até 1921, quando enfim se enfrentaram estes dois gigantes:
Capablanca começou sua carreira de maneira triunfal, vencendo em 1913 dois torneios em New York e ficando em 2° em La Habana, ficando atrás de Marshall. Lasker não jogou torneio algum nestes anos, mas em 1914, em San Petesburgo, organizaram um torneio que tinha como pré-requisito indispensável para participar, ter obtido um 1° lugar em uma competição internacional. Participaram deste torneio, Lasker, Capablanca, Tarrasch, Marshall, Alekhine, Rubinstein, Janowski, Nimzowich, Bernstein e os veteranos Blackburne e Gunsberg. O torneio foi disputado no sistema schuring em 1 turno, classificando os 5 primeiros para a 2ª fase, disputada em sistema schuring em 2 turnos, e iniciariam esta fase com a pontuação alcançada na 1ª fase.
Capablanca venceu brilhantemente a 1ª fase sem derrotas, enquanto Lasker perdeu de Bernstein e ficou a 1,5 pontos de distância. Ao iniciar a 2ª fase, todos os aficionados pensavam que Capablanca acabaria vencendo facilmente, mas Lasker, fantasticamente superou Capablanca por 0,5 ponto, após derrota-lo em uma Espanhola - Variante das Trocas, que é uma das mais famosas partidas da história do xadrez. A classificação final foi:
1° Lasker
13,5
2° Capablanca
13,0
3° Alekhine
10,0
4° Tarrasch
8,5
5° Marshall
8,0
Após este torneio o velho leão é novamente considerado como o melhor jogador do mundo. O ano de 1914 foi fatídico, estoura a I Guerra Mundial e a atividade de Lasker resume-se a um match amistoso com Tarrasch, 1916, vencendo por +5-0=1 e um triunfo em um torneio na mesma cidade, em 1918, superando Rubinstein, Schlechter e Tarrasch.
Capablanca, por sua vez, vence em 1915, 1916 e 1918 os torneios de New York e em 1919 vence Kostic, em La Habana, por +5-0=0. No Torneio de Hastings (denominado A vitória), onde estavam excluídos os enxadristas alemães e dos países aliados, também conseguiu o 1° posto.
Após o fim da I Guerra Mundial, Lasker, sentindo-se velho, quis renunciar ao Título, nomeando seu sucessor, Capablanca, mas esta decisão não agradaria os aficionados, que desejavam ver o confronto. Após trabalhosas negociações foi organizado o match a ser disputado em La Habana. O vencedor seria aquele que conseguisse 8 vitórias primeiro, mas chegando à partida 24 sem este resultado, decidiria a melhor pontuação.
Após a 14ª partida, Lasker desmoralizado pelo placar adverso e talvez afetado fisicamente pelo clima de La Habana, decidiu enviar uma carta ao árbitro propondo sua rendição ao match, em 27Abr1921. A resposta, ainda que discutida entre os organizadores, chegou no mesmo dia, aceitando sua proposta.
Durante o encontro, Lasker foi correspondente de um diário holandês. Eis alguns parágrafos que escreveu sobre si:
Este match, que me ocasionou dificuldades como em nenhum outro, foi para mim um deleite enxadrístico. As circunstâncias extrínsecas que o rodearam foram na verdade desfavoráveis, mas o estilo de Capablanca trouxe-me legítimos problemas. Suas partidas são claras, lógicas e vigorosas. Nelas não havia nada oculto, presumido ou artificial. Através de seus lances adverte seu pensamento, ainda que queira ser astuto. Quer seja quando joga para ganhar como para empatar, ou quando temia perder, seus lances traduziam claramente seu objetivo. Se bem que seus lances são transparentes, estes não são fáceis de encontrar, e às vezes profundos, Capablanca não é amante de complicações nem de aventuras, prefere saber previamente onde pisa. Sua profundidade não é a de um poeta, mas a de um matemático; seu espírito é de um romano, não o de um grego...
Seu xadrez foi muito simpático. Alegrava-me ter um adversário de aço, mas as circunstâncias não me permitiram jogar como planejado. Sob novas condições de vida e climáticas, minhas atitudes decaíram. Meu juízo posicional, a exatidão de minhas combinações e até a facilidade de analisar uma simples posição foram debilitadas, confusas e caíram quase nulas pelo cansaço. Não pude evitar, ainda que nunca cheguei a desmoralizar-me. As causas foram de origem física: transpiração, perda de peso e impossibilidade de dormir profundamente, surgindo assim a falta de concentração por um período prolongado.
Assim terminou um episódio de minha vida. Quando Steinitz viu perdida a última partida do match, pôs-se de pé e exclamou: Três urras ao novo Campeão! Esse gesto emocionou-me e é uma honra pronunciar diante do mundo enxadrístico essas mesmas palavras.
O mestre Mieses disse: O estilo de Lasker é como um copo d'água clara com uma gota de veneno. O de Capablanca, é um copo d'água ainda mais clara, sem a gota de veneno.
Reti, grande enxadrista e publicitário, afirmou: O que mais surpreende, inclusive num estudo superficial do método de jogo de Capablanca é sua grande segurança, sua quase ausência de descuidos e falsas interpretações de posição. É sem dúvida conseqüência de ter aprendido a jogar sendo um menino de 4 anos. Em certo sentido, o xadrez é sua língua nativa. Para ele a dedução de posições simples era muito fácil, enquanto os enxadristas que haviam aprendido o xadrez com mais dificuldades, mais tarde na vida, tinham que estudar as situações.
Após esta derrota, Lasker somente reapareceu sensacionalmente dois anos depois em Mährisch-Ostrau, 1923, vencendo o torneio sem derrotas, o que demonstrava que não estava acabado.